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Descrição

A Fundação Iberê salvaguarda, como sabemos, o patrimônio artístico inestimável representado pela obra remanescente do artista gaúcho que empresta seu nome a esta instituição. Está instalada desde 2008 em Porto Alegre, no edifício magnificamente projetado por Álvaro Siza, arquiteto português cuja obra é das mais relevantes. Numa das suas luminosas galerias acontece a exibição dos trabalhos recentes do pintor paulistano André Ricardo.

Coerentemente, a exposição inaugura a temporada de projetos promovidos pela Fundação Iberê e, por mais de um motivo, a iniciativa reveste-se de importância. É relativamente recente a atenção que as grandes instituições culturais do país emprestam à produção artística e intelectual daquelas parcelas da sociedade que estiveram historicamente excluídas. Por tempo demais ignorou-se, em nosso país, a excelência e, por que não?, a originalidade de uma produção que era realizada com o grande esforço dos seus autores, de maneira marginal e geralmente a contrapelo dos ideários estéticos hegemônicos de ocasião.

A madura produção pictórica de André Ricardo, afrodescendente, de origem proletária, exibida nesta exposição, é resultado de anos de pesquisa e trabalho diuturnos. Entre os artistas da sua geração, raros são os que tão devotamente têm se dedicado à tarefa de sedimentar uma pintura que, como a de Iberê Camargo, contenha uma crítica social que não comprometa o caráter formal das obras, mas, pelo contrário, as tornem mais densas.

Se encontramos nas pinturas de André Ricardo ecos da civilização afro-diaspórica, da história da arte do Brasil e da diáspora nordestina é porque tais referências são constituintes desse projeto artístico, não são extrínsecos a ele, pelo contrário, são intrínsecos e, portanto, orgânicos, nesse projeto temporariamente abrigado na galeria concebida por Siza.

Claudinei Roberto da Silva
Curador